Takashi Fukushima
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Takashi Fukushima
(São Paulo, São Paulo, 1950).
Pintor, gravador, desenhista e cenógrafo. Sua pintura se caracteriza por uma linguagem própria, fruto da combinação do tradicionalismo da cultura japonesa com questões próprias da contemporaneidade. Elege como objeto privilegiado a paisagem, seja ela a do jardim, a da cidade, a do oceano ou a do cosmos. O que importa para o pintor é expressar o que o humano pode ver (ou mesmo imaginar), sendo um ponto de referência na vastidão do universo.
Filho do pintor Tikashi Fukushima (1920-2001), estuda com Luiz Paulo Baravelli (1942) em 1970 e, no mesmo ano, ingressa na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP). Paralelamente aos estudos universitários, expõe suas pinturas em grandes mostras. Participa da Bienal Internacional de São Paulo de 1973 e de 1975 – obtendo, nesta última, o prêmio aquisição – e de várias edições do Salão Paulista de Artes Plásticas, sendo premiado em 1976.
No início da carreira, pinta paisagens utilizando grafismo caligráfico e pinceladas que ocupam a parte inferior da tela, deixando em branco grande parte da superfície. De acordo com a tradição oriental, esse espaço em branco se relaciona não só com o silêncio, mas também com a espiritualização. Aos poucos, toda a superfície branca da tela passa a ser ocupada pela paisagem, produzida em linhas sinuosas, que revelam montanhas e vegetação. Em oposição aos grafismos, em algumas áreas predominam pinceladas realizadas com tintas fluidas, aproximando-se da abstração.
São desse momento da trajetória do pintor os quadros Jardim paisagem (1980), e Passeios da ilha flutuante (1981). Neles, identificamos a representação de paisagens naturais, sem, contudo, a preocupação de mimetizar o que se observa. O artista expressa em suas pinturas a imensidão do horizonte, representando fios de água, montes e vegetações, tudo o que se pode observar até onde o olho alcança. Nesses quadros, utiliza uma gama cromática que evoca a suavidade da aquarela, em obras de grandes dimensões.
Em contraposição à calmaria das paisagens naturais, o pintor retrata também, a partir da metade da década de 1980, a turbulência das paisagens urbanas. Esses trabalhos apresentam grande simplificação formal, com uma gama cromática mais escura, em que predominam cores misturadas ao cinza, como se observa em Metrópole – Noturno (1987). No quadro, pinceladas que, à primeira vista, parecem abstratas revelam grandes prédios de ângulos retos. Esses edifícios sobrepostos na tela revelam a disputa por espaço em uma grande cidade. Ocupam a maior parte da tela, em que predomina a cor cinza, numa referência ao concreto característico do urbano. Contornando esse espaço quase monocromático, uma moldura cheia de cores, com fragmentos de imagens, que poderíamos associar aos outdoors de propaganda, cujo colorido se destaca na metrópole.
Ao longo dos anos 1990, o tom abstracionista passa a se acentuar na obra do artista. Em exposição realizada em 1999, utiliza técnica mista sobre madeira, empregando as tintas de maneira a deixar transparecer a textura e os veios do suporte, em obras mais próximas da abstração. Outra exposição no mesmo ano, Tempos flutuantes, realizada na Pinacoteca de São Paulo, apresenta diversos quadros com representações abstratas, como Black and blue (1995).
Esse abstracionismo pode ser pensado como uma herança da produção artística não só de seu pai, mas também de outros pintores de origem japonesa, como Manabu Mabe (1924-1997) e Kazuo Wakabayashi (1931). Homens simples e sem formação artística, esses imigrantes japoneses desenvolvem uma arte própria, com bastante lirismo, que se inscreve no que se chama de abstracionismo informal. É esse ambiente que proporciona a Takashi Fukushima o apreço pela pintura e o olhar particular sobre ela.
Em 2016, participando do projeto Resgatando cultura, promovido pelo Instituto Olga Kos, realiza oficinas de pintura para pessoas com deficiência intelectual atendidas pelo instituto. O resultado da parceria é uma exposição na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, com pinturas dos participantes da oficina e do artista, além da publicação do livro Diáfanas paisagens, dedicado à vida e obra do pintor, escrito pelo crítico de arte Jacob Klintowitz (1941).
No livro, o autor sintetiza o caráter da pintura do artista: “É tudo paisagem. Ou cósmica. Ou da terra. Ou do sentimento humano. Para Takashi Fukushima, o mundo é uma contemplação”. Essa é a chave para compreender o trabalho do pintor, pois, ainda que não apareçam figuras humanas em seus quadros, o humano está presente, afinal é sob sua ótica que as paisagens são expressas. É o que Klintowitz chama de rastro: o homem é o que olha a paisagem e, nesse sentido, seu olhar é o rastro do caminho percorrido.
Premiado e reconhecido por seu talento em sua longa trajetória artística, Takashi Fukushima é um dos grandes nomes da pintura contemporânea brasileira. Resgata, nesse momento de fugacidade do tempo, a importância de contemplar o entorno, de olhar para a paisagem, seja ela qual for, e de se colocar no mundo como ponto de referência para a observação. É o homem e seu lugar no mundo que Takashi Fukushima representa com beleza e singularidade.